Quem é o líder do tráfico chamado pela polícia de 'faz-tudo' do PCC
23/02/2025
(Foto: Reprodução) Segundo a Polícia Federal, Barille chegou a movimentar R$ 2 bilhões no sistema financeiro brasileiro. Ele se entregou à Justiça no início do ano. Conheça o líder do tráfico chamado pela polícia de concierge do PCC
Willian Barille, de 37 anos, vivia como empresário numa área nobre da Grande São Paulo. Mas, segundo as autoridades, ele é um megatraficante que conectava organizações criminosas de vários lugares do mundo, incluindo a máfia italiana. Utilizando um aplicativo de mensagens secreto, Barile mantinha uma rede internacional a serviço do crime.
Em 2020, em Florianópolis, Barille era o dono de uma mansão com vista para o mar. Ele curtia a vida e os negócios ao lado de amigos e sócios.
Segundo Eduardo Versa, delegado da Polícia Federal e supervisor do grupo especial de investigações sensíveis no Paraná, entre 2018 e 2022, Barille movimentou R$ 2 bilhões no sistema financeiro brasileiro. Ele diz que ainda existem indicativos de investimentos no exterior, investimentos nos Emirados Árabes, investimentos na Itália, investimentos em outros países da Europa.
Homem é apontado como "faz tudo" do PCC
TV Globo/Reprodução
Barille falava várias línguas e se apresentava como um homem de sucesso, dono de nove empresas. Mas a polícia descobriu que essas empresas eram usadas para lavagem de dinheiro do tráfico.
"Nessas empresas, a gente constatou vários indicativos do uso delas para lavagem de dinheiro e diversas metodologias também, como aquisição de bens, como estruturação contábil.
Para as autoridades, Barille era um "faz tudo" do PCC, fornecendo contatos e logística no Brasil e no exterior. Ele era sócio de Edmilson de Meneses, o Grilo, membro da facção. Juntos, enviavam cocaína para a Europa pelo porto de Paranaguá.
De acordo com as autoridades, o grupo de Barille tinha acesso à área interna do porto e às informações privilegiadas sobre a exportação.
Os criminosos traziam a cocaína em caminhões, abriam os contêineres que já tinham sido escaneados e inseriam a droga rapidamente. Os contêineres eram escolhidos a dedo. Pertenciam a empresas idôneas e com boa reputação. E que, portanto, não eram verificados fisicamente. Isso possibilitava o envio de grandes quantidades. Centenas e centenas de quilos.
O processo era assim: o caminhão entrava no porto para descarregar um contêiner. Logo depois, parava em um local determinado e um homem abria a porta do carona e levava a droga para dentro do contêiner. No vídeo exibido pelo Fantástico, foram dez malas com cocaína.
"Eles necessariamente precisam de informações privilegiadas de funcionários do terminal do contêiners", afirma Versa.
Barille tinha contratado a quadrilha do atravessador Jefferson Barcelos de Oliveira, um guarda civil de Paranaguá, para fazer a logística criminosa. Barcelos corrompia funcionários do porto e coordenava os carregamentos.
Os primeiros registros dos negócios entre Barille e Barcelos é de junho de 2019, quando houve uma reunião entre Barcelos e um comparsa de Barille num apartamento da máfia italiana em Praia Grande, litoral paulista.
O mafioso italiano Nicola Assissi, que vivia foragido no Brasil, foi o anfitrião do encontro.
"Nicola Assisi era conhecido como o fantasma da Calábria. Ele era o responsável pelo escritório latino-americano da Ndrangueta", diz Raíssa Kyrie Jardim, procuradora da República.
As autoridades acreditam que a máfia da Calábria enviava drogas da América do Sul para a Europa com o grupo de Barille.
Em julho de 2019, Nicola Assisi e seu filho foram presos pela Polícia Federal. No entanto, os negócios entre Barille e Barcelos continuaram até que dois carregamentos para a Europa com 770 kg de cocaína foram roubados em 2020.
Homens de Barille foram à casa do atravessador responsável pela operação no porto para tirar satisfação. Um comparsa de Barcelos que estava na casa ligou para o irmão.
Minutos depois, a Polícia Militar chegou e prendeu todos em flagrante. Em um grupo de mensagem, Grilo, sócio de Barille e membro do PCC, disse que se vingaria da quadrilha de Barcelos.
Segundo a Polícia Federal, Barille matava quem o roubava. Em maio de 2020, Jefferson Barcelos foi executado. Segundo os investigadores, Barille enviou uma foto do corpo para os comparsas na Europa: "O guarda caiu. Nós fomos roubados e matamos quem nos roubou."
O grupo ainda teria assassinado outras três pessoas ligadas a Barcelos.
Barille montou uma nova equipe e continuou a enviar drogas por Paranaguá. Em dezembro de 2020, dois carregamentos de cocaína dele foram apreendidos, um deles com meia tonelada e outro de 322 quilos. Mas nessa época, outro meio de transporte já era usado pela organização dele.
De acordo com as investigações, Barille usava aviões particulares para transportar drogas à Europa. Em um único voo, essa aeronave, que foi apreendida pela Polícia Federal, levou quase uma tonelada de cocaína para Bruxelas, na Bélgica.
Os criminosos colocavam a droga no bagageiro, no assoalho, debaixo de poltronas, em compartimentos secretos, chamado de mocós.
Um dos voos saiu de São Luís com destino à Bélgica. No meio do caminho, o piloto comenta que foi difícil decolar e comentam sobre o peso.
Desde 2020, a Polícia Federal do Brasil e o Ministério Público vêm monitorando os passos da organização de Barille, um trabalho feito em conjunto com autoridades da Itália.
A cooperação permitiu que a PF tivesse acesso às mensagens trocadas entre os integrantes por meio de um aplicativo secreto, chamado SKYECC, que precisava de um telefone próprio e que mantinha os usuários em anonimato.
"A França detectou, conseguiu monitorar esse aplicativo, junto também com a Bélgica, se detectou ali a atuação de vários agentes criminosos espalhados pelo mundo inteiro", diz Anamara Osório e Silva, procuradora-chefe da unidade de cooperação internacional da Procuradoria Geral da República.
De acordo com as autoridades, mensagens no aplicativo revelaram, inclusive, um plano de Barille para ajudar Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, braço direito do PPC, Marcos Camacho, o Marcola.
Fuminho tinha sido preso em Moçambique e queria fugir da cadeia.
"Ele apareceu nas mensagens do SKYECC, sendo um dos coordenadores, da tentativa do resgate do Sr. Fuminho", diz a procuradora Raíssa Kyrie Jardim.
Barille pretendia pagar US$ 2,5 milhões em propina a policiais moçambicanos para libertar Fuminho, e depois escondê-lo nos Balcãs, onde Barille tinha relações com grupos criminosos.
Barille contratou um cônsul honorário de Moçambique para ajudar no plano.
Fuminho foi extraditado e hoje está em um presídio federal brasileiro. A defesa do cônsul Deostede diz que não recebeu qualquer intimação e nega qualquer envolvimento em atividades ilícitas.
Em dezembro do ano passado, a Polícia Federal fez uma operação contra Barille. Foi realizada busca e apreensão em 31 endereços ligados a ele, como na mansão em que vivia em um condomínio de luxo em Alphaville, área nobre da Grande São Paulo, além da sua casa em Florianópolis.
Edmilson Meneses, o Grilo, morreu dois meses antes da operação.
Barille ficou foragido por mais de um mês e depois se entregou. Na audiência de custódia, ele disse que se coloca à disposição da justiça.
"Willian Barille desconhece o SKYECC, ele nunca utilizou esse telefone criptografado, e nunca praticou nenhum ato ilícito, muito menos tráfico de drogas", diz Eduardo Maurício, advogado de Barille.
Para a Polícia Federal, não há dúvidas de que ele comandava a organização por meio do aplicativo e já tinha outros planos.
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